quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Texto encenação "Retratinho de Fernão Mendes Pinto"

Descobrimos Fernão Mendes Pinto, escritor e aventureiro quinhentista, como uma figura teatral, que, ao longo dessa maravilhosa obra que é a sua “Peregrinação”, se transmuta em tantas outras personagens, adaptando-se a cada nova situação. Ele é comerciante, escravo, soldado, pirata, marinheiro, embaixador, noviço... e, acima de tudo, um narrador sem igual, exagerado, apaixonado, entusiasmado, que elabora um relato encantador das aventuras dos portugueses em terras do fabuloso Oriente, servindo-se de um estilo rico e (também) cómico.

Decidimos ampliar a vida e obra deste escritor e aventureiro quinhentista até ao exagero e à histeria, jogando com ritmos (no corpo e na voz das intérpretes), procurando o grotesco e o burlesco, acentuando bem o lado fantástico das suas aventuras (ficção ou não, isso não nos interessa muito!).

Ao mesmo tempo, nutrimos, por ele e pelas personagens que o rodeiam (e o habitam!), um carinho imenso, porque, em todo esse exagero desmedido, ébrio, sentimo-lo mais verdadeiro do que qualquer outro. E é nesse registo histriónico, falso, incerto, estranho, forçado, que encontramos o real da sua ficção e o vemos (artista performativo) a actuar, a transformar-se, a mascarar-se, diante dos nossos olhos, sem grandes artifícios, qual contador de estórias... da História... E se lhe disserem, “Oh, Fernão! Mentes?”, ele responderá certamente, “Sim, minto. Muito! Mas só para dizer a verdade...”

PEDRO ALVES, encenador

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