terça-feira, 1 de setembro de 2009

Diz o Pedro Marques, sobre o "Retratinho de D. Carlos"

São dois fantasmas. Tal como eu os imaginei. D. Amélia fabrica D. Carlos na sua cabeça. Mas D. Carlos também preserva a sua independência.Ontem, depois do ensaio, quando percebi que tinham cortado o monólogo de D. Carlos às crianças, achei que provavelmente era bom, a dramaturgia dizia que o D. Carlos era uma marioneta, aquele bocado de texto parecia um apêndice. Mas hoje percebi que não. E foi-me revelado por uma menina de 5 anos que viu o ensaio e depois disse que D. Carlos era o mau.

Falámos sobre se ele teria posição moral para falar às crianças, tentando justificar o corte, eu fiquei a pensar nisso. E hoje percebi que se D. Carlos não criar cumplicidade com o público o espectáculo fica com uma posição moral que eu não previa nem queria.A menina de 5 anos percebeu tudo. D. Carlos nunca falou com ela. D. Carlos nunca a interpelou como a Rainha fez. A Rainha contou-lhe uma história. O rei D. Carlos, para ela, era um tipo sempre de costas virado para um quadro. Acho que quando o fantasma de D. Carlos se vê só, no espaço depois da conversa com a Rainha, ele tem curiosidade e vontade de também contar alguma coisa ao público. É o que acontece quando os fantasmas vão aos teatros... só que não vem refutar o que rainha diz, ele vem contar uma história moral. Que tem a ver com o fazer, o acreditar em si próprios. Em ter um nome. D. Carlos tinha dezena e meia deles... nunca teve um nome, só teve um título...

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