Pediu-me o Pedro que falasse um pouco dos bastidores da escrita de uma peça como esta...
A recolha de informação viva foi a marca de água de todo este trabalho. Por um lado, Luísa Teotónio Pereira (CIDAC) confirmou o ângulo de abordagem que tinha escolhido para falar deste homem tão importante para a África "Lusófona"; as nossas conversas revelaram-se muito úteis para o desenho final. Mas a cor total da cena só seria atingida com os meus encontros ao fim da tarde na esquina da Rua Francisco Xavier (bairro da Cova da Moura) com Mumini Djaló, muçulmano Fula que viveu a sua meninice na "escola da mata" durante a guerra colonial. Escutar na primeira pessoa as peripécias de um menino educado na escola do PAIGC em pleno conflito, trouxe o sentido às palavras. É claro que a peça deixou de fora muito do que me foi contado tranquilamente, até à hora em que o "padre da nossa religião" vinha ler o Corão na mercearia do bairro.
A imagem dos helicópteros sobrevoando o capim de forma a o afastar, pondo a descoberto as crianças que aí se tinham refugiado, ficou a pairar dentro de mim. Depois, debruçados da máquina voadora, os militares portugueses acenando, tentando aliciar com doces os meninos da mata: Sobe! Sobe! Vem connosco! - Sabiam bem que cada menino deixado na mata se tornaria um guerrilheiro no combate pela independência.
Tocante, foi também a descrição da escola do PAIGC na floresta: a sua organização, rostos salpicados de memórias, sons, cheiros, tudo isto guardado no olhar com que Mumini Djaló me esperava a cada início de tarde.
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